segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Ah! Aquele Mundico!...

Tô me lembrando do Mundico,aquele do caso da onça.
Ah! não te contei! depois eu conto.
Mundico me via em qualquer lugar vinha logo com um caso.
Na padaria do seu Joaquim; no açougue; no butiquim do gordo;
na porta do cinema; nas festas de familia.
Um dia no velório de um parente em comum,Mundico é meu primo
em primeiro grau, sapecou de lá prá cá,
- Ôh Jesus! sê lembra...
Tenho o nome do homem, mas longe de querer ser crucificado,
aínda logo alí no velório do Asdrúbal! interrompí de chofre a historiada
que vinha de costume.
- Tá doido Mundico! tamo n'um velório de gente da gente, por que
você não se põe à chorar!?
Escapava as vezes das investidas do Mundico, mas virava e mexia
ele dava um jeito de me pegar!
Esticava a missa das nove; dava de passar no campinho de pelada
pra ver o pessoal;( andava dez quarteirões a mais mas era por uma
causa justa). Hoje passou no Chico Prêto prá fazer a barba. Ele
nunca fazia a barba no barbeiro, era a Dontina que sempre o deixava
asseado - uma mulher com todos os predicados minha mulher uma
verdadeira dama -
Me encontrou já sentado na cadeira de couro; um pano que outrora
foi azul prêso em volta do meu pescoço por um prendedor onde um
dia, pelos sinais apresentados, teve um velcro; o rosto tomado de
espuma e os ouvidos livres pro caso do Mundico. É o que lhe bastava.
- Hoje sê deu sorte professor, não sô o Sílvio( Santos ) não mais!,
a felicidade bateu na sua porta.
- Sê lembra do Quinô? ele tava no sonho. Me apareceu com uma
camisa marrom, aquela mesma que ele tava no entêrro do Asdruba,
e derrepente tirou do bolso um pedaço de papel - era papel de pão
da padaria do seu Joaquim - com uns rabiscos feitos de carvão
garatujando um mapa. Era um mapa de tesouro. Ele me falava
numa linguagem que eu num intendia direito, mas alguma coisa
era mais ou menos assim: tem de ser o Jesus tem de ser o Jesus
na fazenda do Seu Dé Baiano na noite de lua na noite de lua tem um
pote de ouro interrado ele vai sabê onde tá tem de ser o Jesus.
- Eu sei onde é a fazenda, aquela mesma que ocês morô com
roça de algodão.
E falava e falava e o Chico corria a navalha no afiador de Buriti,
parava prá dar uma espiadinha na estória e num hum! de consentimento
tirava minha barba enquanto eu dormia a sono solto quase
chegando a roncar.
Nas idas e vindas virei mesmo professor, de Universidade Pública,
Federal! com passagem entre os que também como eu acreditaram um
dia na educação do país.
Tô me lembrando do Mundico, aquele do caso do pote de ouro.
Ah! te contei.
E eu nem sei por onde ele anda.


sobre a obra

Aos Mundicos que vão por aí contado
causos

Nenhum comentário: