terça-feira, 23 de dezembro de 2008

SABAH




Menina, flor que alumia
Em perfume um bem querer,
Traz no seu ser a magia
Do mais claro amanhecer...

Vão se abrindo os corações
Diante o sorriso dela:
Tem a força dos Leões
E a brandura da Gazela.

Se a Rosa é a rainha
Das flores que a terra dá,
Das rosas és a Rainha:
Ysabel_lindinha: Sabah.

sobre a obra: tenho uma amiguinha
linda chamada de nome oficial Isabel
para mim ela é Sabah

sábado, 20 de dezembro de 2008

VERRINAS DE FIM DE ANO



Papai Noel... Tô de saco cheio
Nossos sacos, cheios?! Nem por meio...
Que saco! essa inexorável invasão.

O bom velhinho, em socapas, fuco caricato:
Vem enlheeiro lamber o nosso prato,
Do nosso pouco arroz com feijão.

Em cataduras: imagens, demasia.
Vermelho, alvinitente, a estrela guia,
Empurradas: porções em nossa goela...

Avelãs não! Castanhas não! Nada de vinho...
Uma boa cachaça, juntos, com carinho,
E o nosso velhinho: a nossa própria estrela!


sobre a obra
à sombra de 'Favela Mundi' e em homenagem
ao mano Ayruman

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

AMANTE



Ela não cabia mais naquela cama ou ele. Não, nunca os dois... Levantou-se foi até a porta do banheiro, assim mesmo descalça em roupas de dormir, entrou. Lavou as mãos o rosto despiu-se sentou no vaso. Enfiou a cabeça por entre as mãos, apertada. Talvez ela quisesse esquecer, mas se lembrava, nos sonhos agora sempre se lembrava. Sacudiu a cabeça levantou-se deu descarga iria tomar uma ducha: o quente do tempo queimando o sensível da pele o quente de dentro ardente precisado preciso presente: os beijos tantos o gostoso da pele nova a volúpia o coração palpitado (asas de colibri no vôo) o mergulho o coito o frenesi o gozo, cachoeira... Nem mesmo acendera a luz tateando no conhecido do escuro: não quis a imagem no espelho. Enxugou os cabelos sacudiu a cabeça, nua na solidão de si daquela casa, cheia... Vestiu.
O marido era outro, não o de tempos passados dos beijos dos dengos das noites de pouco dormir envoltos cúmplices, calientes. Não queria mais aquela vida de cismas de afastamento, de bundas encostadas no sono atribulado da noite, não ousava dizer.
Olhava o marido bem ali, distante longe na curva do mal me quer...

sobre a obra

pele versus $

cred. imagem: rb_alves

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

MANEQUIM



O lotação passou apressado pela rua da feira, atravessou o sinal da 80 derramou-se pros rumos da 74 nos jogou como apalermados no inferno lotado da Rua do Comércio, num vendaval de ofertas e de camelôs. Eu haveria de ter voltado aqui bem mais tempo antes muito antes, bem. A natureza me cortara o caminho da volta e eu adiando fui adiando além, muito, depois. Tempo bom tempo já havia se passado e eu nem bem morava mais nem na cidade quem dirá naquele centro de tresloucadas opções, de loucas vidas... eu de noite depois de arrumar o que tinha que arrumar dormiria no bairro da casa de um primo meu, depois de regressar no lotação, na periferia. O quarto de o quarto andar decerto já estaria alugado uma duas tantas vezes, mas não vira nem sombra nem nada nem ninguém quando insisti em olhar pra’quela janela. Debrucei sobre o rebuscado do tempo e um sorriso largo me encheu, de canto a canto, a boca: a loja da esquina ainda hoje aberta, a mesma loja, decerto que sim, abarrotada, seria, pois o motivo do gozo...
Dentro do lotação lotado e ainda por mais os metros da chegada até a casa e deitado depois já varando madrugada, o sorriso vinha e voltava e era a imagem da loja os caducos da lembrança me trazendo os idos dos dias anos, muitos, tempo...
De manhãzinha pelas horas do primeiro galo o telefone toca e ela era, de carne e osso e fala na distância do perto, a minha mulher: queria saber das compras do médico dos parentes, sempre solícita.
Bem podia ter-lhe comprado aquele vestido vermelho!...


imagem: manequim
marcusvbp

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

ESTAÇÃO PRIMAVERA




Dei uma volta ao mundo
Fui Cabral, sei Santarém...
Para o ano vou mais fundo,
Manaus, capital Meu Bem!


imagem Flickr

CULTUS




Chutei...
Pareço iconoclasta?!
Louco, fiz beiço pro milagre,
Do santo que era de barro:

Cri mas não me conformei,
A leitura dos salmos deixa
Para depois...
E enquanto,
Bebi dos vinhos, do tinto
Do outro do sacro, e me
Embebedei da festa, da disputa.

Pra lá pra cá eu fui
Eu quis?... Enlevei-me.

Deixo-os enlaruçar-se,
...nos seus credos, pouco,
Depois, saio...

imagem: Cena da Inquisição
Victor Manzano

ENAMORADO



De vestido vermelho rodado solto no corpo de menina, sapato de salto bico fino, cabelos negros cortados em franja; naquela sexta ela se vestira pra mim.
Eu não me cansava de olhar pela janela; ela lá, na sua paciência infinita de monge tibetano, parecia que estava lá só pra que eu a fitasse. Ah! quantas viagens fizemos juntos: passeios de barco bermuda e chinela de dedos quarta-feira ensolarada, quantos banhos de mar com aquele biquíni da terça, no cinema qual era mesmo aquele filme?! a calça jeans camiseta estampada e os tênis da quinta. Hoje vamos jantar no Flamingu’s, depois tem baile!
Ela não veio já dura um dia e outro, eu na janela olho em compasso lá e acolá e ali e além, ela não veio. As noites são longas e de manhã de novo ela não se mostrou pra mim.
Tomo fôlego, caminho de cá pra lá vou até a porta volto, resolvo vou.
Na esquina do outro lado da Rua do Comércio uma placa na porta de aço baixada, leio
FECHADO PRA BALANÇO.


sobre a obra
confissões de um moço tímido
ou dançou mané...

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

VELHUSCO



Acenderam as velas hoje é meu aniversário.
Jazem esquecidos tempos que eu não faço anos,
Deixei os confetes no bolor das flébeis serenatas.

Mora em mim a acídia dos derrotados e quando me
Festejam estou só. Inexorável ruga de minh’alma
Olvidas meus dias de Apolo?

Percute em sala o calor barulhento dos netos:
Vovô vovô... Ensurdeço na desídia dos ouvidos cansados,
Defenestra-me a lógica da razão.

Apenas quero dormir, apaguem as velas...


imagem: La Mémoire, 1948
Rene Magritte

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

PERFIL



Invoquei um santo de pau oco
Pra saber de ti toda a verdade.
Mas qual nada, não tive nem o troco
Das verdades ou da tua falsidade...

O teu nome, amarrei na boca do sapo
Sobrenome eu nem sei se tu assina
Perguntando, inquirindo em bate papo
Te procuro nos lugares, em cada esquina.

Vou fazer um apelo ao pai de santo
Entre rezas pedir teu paradeiro,
Pois eu sei do teu texto, do teu canto
Mas eu quero é teu todo, por inteiro.

Tu te acha acima de suspeita
Ou suspeito, tu não pode aparecer?
Advogo em tua causa, vê se aceita!
Faço tudo pelo bônus de te ver.

Me aflige essa tua nulidade.
Teu perfil? Teu currículo? O ponto exato...
Pelo mister, pelo bem por caridade
Me apareça pelo menos em três por quatro!


à José da Silva, um homem comum


imagem: The Son of Man
Magritte