quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

MANEQUIM



O lotação passou apressado pela rua da feira, atravessou o sinal da 80 derramou-se pros rumos da 74 nos jogou como apalermados no inferno lotado da Rua do Comércio, num vendaval de ofertas e de camelôs. Eu haveria de ter voltado aqui bem mais tempo antes muito antes, bem. A natureza me cortara o caminho da volta e eu adiando fui adiando além, muito, depois. Tempo bom tempo já havia se passado e eu nem bem morava mais nem na cidade quem dirá naquele centro de tresloucadas opções, de loucas vidas... eu de noite depois de arrumar o que tinha que arrumar dormiria no bairro da casa de um primo meu, depois de regressar no lotação, na periferia. O quarto de o quarto andar decerto já estaria alugado uma duas tantas vezes, mas não vira nem sombra nem nada nem ninguém quando insisti em olhar pra’quela janela. Debrucei sobre o rebuscado do tempo e um sorriso largo me encheu, de canto a canto, a boca: a loja da esquina ainda hoje aberta, a mesma loja, decerto que sim, abarrotada, seria, pois o motivo do gozo...
Dentro do lotação lotado e ainda por mais os metros da chegada até a casa e deitado depois já varando madrugada, o sorriso vinha e voltava e era a imagem da loja os caducos da lembrança me trazendo os idos dos dias anos, muitos, tempo...
De manhãzinha pelas horas do primeiro galo o telefone toca e ela era, de carne e osso e fala na distância do perto, a minha mulher: queria saber das compras do médico dos parentes, sempre solícita.
Bem podia ter-lhe comprado aquele vestido vermelho!...


imagem: manequim
marcusvbp

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