segunda-feira, 15 de março de 2010
Fôia...
imagem - Portinari
O minino avoou, taboca
Papagai de papel
Minhoca na mão, biloca
Pescaria no céu
Taramela abriu o sol
Papagai tá no fim da linha
Veio a noite pindei o anzol
Pra pescar a Rôxinha
O batom que é vermei vermei
Bria mais que a turmalina
Se manchô a camisa num sei
Mas ditou minha sina
Foi então que beijei, beijei
E o vermei me pintou
Quando o galo cantou seis horas
O canto me acordou
De vestido rodado vermelho
E a boca vermelha, grená
A Rôxinha passou na janela
Nem parou para me beijar.
Esconjuro menino esse banho
De tempo demorado...
Soltar pipa de pano, não sei!
Mas sonhar é pecado.
domingo, 7 de março de 2010
Retrato II
a torre - Carlos Mota
A lama, lágrima escorrida em face da desgraça
Açoita, imola, escancara a suspeita da ameaça
Sem prevenir; arrasta, arrasa, arregaça
Aluvião de infortúnios; revela caras, credos,
corpos, massa...
A dor estampada na tela, abala – Guernica decifrada –
Foram-se filhos, infantes, perdeu-se um poeta
Um verso lancinante: o verbo nada.
Nostradamus não veio nos dizer
Que essa hora chegada era esperada
Tanta angústia, degredo, gritos, morte.
Pesadelo acordando a madrugada.
Sabe o homem o que fez por não ter feito,
Nessa tara capital tão desregrada?!
Um porto infeliz, posto que sangra,
Um sorriso apagado em mais um rosto
Outra história infeliz que vira nada...
domingo, 7 de fevereiro de 2010
A morte da bailarina...
imagem - Taunay Mota
No cais do porto um corpo, um morto...
E a testemunha: um céu aberto.
Ninguém por perto?!
Ninguém quis nem olhar!
A lua clara travou a fala.
O descompasso ditou o passo...
A cotovia calou o dia,
E a mariposa manchou a flor.
A roda viva quedou ferida,
E mesmo nada o voo do condor...
A bailarina bailou menina
Foi messalina, foi meretriz.
Porque não quis fez palco
O mal, o mar...
Brilhou o dia e a cotovia
Não cantaria pra se alegrar...
A bailarina tão, tão menina!
No cais do porto um corpo, um morto.
Nada de choro. E num só coro
Ninguém quis mais cantar.
segunda-feira, 25 de janeiro de 2010
Cantiga para Maria
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